A mania configura-se durante a posição depressiva, sendo principalmente uma defesa contra a ambivalência, contra o reconhecimento de que o objeto primário, a mãe, originalmente mais ambiente do que propriamente objeto, é continente simultâneo, como protótipo do mundo externo e receptáculo de projeções, tanto dos aspectos idealizados da existência quanto dos mortíferos e ameaçadores.
A mania consiste então na conjugação de um retrocesso paranoide à cisão (Eu-bom x outro-mau),
com a diminuição da intensidade da projeção da pulsão de morte, característica da posição depressiva; isto produz objetos maus mais depreciados que perigosos.
Projeta-se a pulsão de morte apenas o suficiente para reconstituir o objeto mau, cindido, externamente, reservando-se sua maior parte ao Eu, o que dá origem ao sentimento de onipotência.
Assim o pavor que se tinha dos objetos maus é negado, e o eu se sente capaz de aniquilá-los,
o que nem sempre é levado a cabo, já que a destruição do objeto tem conseqüências paranoides – a saber, seu incessante e surpreendente retorno. Em função disto, o mecanismo privilegiado é, na verdade, o de manter o objeto mau em uma espécie de "animação suspensa" (Klein, 1996 [1935], p. 319), o que significa controlá-lo,
humilhá-lo e torturá-lo (Id., 1996 [1940], p. 395).
As defesas maníacas, “na medida em que se voltam principalmente contra os sentimentos persecutórios (e não tanto contra o anseio pelo objeto amado), têm um caráter extremamente sádico e violento” (Ibid., p. 403). Este sadismo egossintônico é possibilitado pela deflexão constante da culpa do próprio self para o objeto mau externo, promovida pelo Eu.
A marca das defesas maníacas se apresenta, em suma, no desprezo
e ridicularização do outro.
O desprezo e a ridicularização, no entanto, são reações a uma angústia paranoide subjacente, o pavor do objeto.
Esta sobreposição das defesas paranoides e maníacas faz o objeto oscilar entre o desprezível e o monstruoso, oscilação que talvez tenha sua síntese no sentimento de asco.
Outro tipo de defesa, posterior em termos de desenvolvimento psíquico, é a obsessiva. O objeto mau tipicamente obsessivo são as fezes, com as quais se lida separando-se delas e expulsando-as para longe. Trata-se do exílio do objeto mau, num processo de "limpeza" que precisa ser repetido incessantemente a fim de manter separados, com fronteiras nítidas, os objetos maus do resto do self.
Tais soluções operam pela fantasia de que de alguma forma desfazem ou compensam magicamente os danos advindos da inescapável e sempre renovada, produtora de novos objetos maus, ação da pulsão de morte.
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