Terminei um post sobre o narcisismo dizendo que ele estava nos olhos de quem vê. Pois hoje me deparo com uma notícia que me fez voltar ao tema. Não que o vocabulário neurocientífico não irrite um pouco - quem já está cansado desse revival do materialismo mais objetificante levante a mão -, e não que não se esteja, como de costume, descobrindo o óbvio - no caso, que a percepção é atravessada pelo significante, como diria Lacan -, mas fico feliz que o tema seja abordado, estudado e que as conclusões façam eco a outras considerações que acho interessantes.
Por exemplo, à crítica de Girard a qualquer noção de narcisismo que não seja efeito de uma atribuição por parte de um outro. O que o estudo flagra é justamente essa atribuição de valor que alça um objeto a uma plenitude da qual na verdade carece. Acontece que é também exatamente isso que fazemos quando se trata não de objetos, mas de pessoas; basta ligar a TV para percebê-lo. Aliás, que o entretenimento - que se passa por arte - está hoje, como nunca, estruturado em torno da promoção de celebridade não é segredo.
Pois bem, se admitimos isso, não é só "a maneira como vemos a arte" que "não é racional", mas a maneira como vemos (o mundo). Mas, mais que isso, ela não só não é racional, mas é, mais especificamente, política. Era, aliás, o que eu dizia mais cedo.
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