Coleciono mentalmente, sem querer, trechos da obra de Freud. Alguns chego a decorar, também sem fazer qualquer esforço neste sentido. O que me causam, o que implicam? Vejamos.
"A hipótese mais simples e mais indicada sobre a natureza da pulsão seria que, em si mesma, ela não possui qualidade alguma, devendo apenas ser considerada como uma medida da exigência de trabalho feita à vida anímica" (Freud, 1996 [1905], p. 159)
"A hipótese mais simples e mais indicada sobre a natureza da pulsão seria que, em si mesma, ela não possui qualidade alguma, devendo apenas ser considerada como uma medida da exigência de trabalho feita à vida anímica" (Freud, 1996 [1905], p. 159)
Este é dos Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905).
O que está em jogo aqui é a pulsão, o impulso, conceito que não por acaso foi traduzido por 'instinto' na mais famosa tradução das obras do velho Sigmund, a de James Strachey para o inglês. Não por acaso porque a pulsão nasce mesmo deste campo semântico dominado, numa terminologia científica, pelo conceito de instinto.
Só que é com esta frase, justamente, que Freud diferencia pulsão e instinto: se a primeira não tem qualidade alguma que seja pré-determinada, o instinto é, ao contrário, inato. É um arco reflexo, um pacote de comportamento em resposta a um estímulo que segue uma programação, podemos dizer genética?
Bom, a pulsão é outra coisa então. Ela exige um trabalho psíquico do sujeito para se configurar, para escolher seu objeto e seu percurso até este objeto que se supõe que a satisfará.
E daí? Daí várias coisas. Pra começar, daí que o impulso sexual não vem formatado de nascença, e a atração natural de um humano por outro do sexo oposto não é algo dado, mas algo que é construído (a duras penas às vezes) ao longo da vida.
Mas outra coisa que me ocorre é que assim Freud localiza a Psicanálise num campo diferente do das ciências biológicas, e diferente do das Psicologias mais científicas: se a pulsão é um de nossos objetos mais importantes, se não o único, o fato dela se configurar e se transformar através de um trabalho que é anímico, psíquico, atravessado, pois, necessariamente pela linguagem, nos aponta o que será nosso campo privilegiado de intervenção enquanto analistas, o do discurso; a fala, a escuta, a interpretação, a recordação, a elaboração.
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