sábado, 25 de agosto de 2012

Frases de Facebook (2)

A frase:



Fonte, contexto:

Volume XVI das Obras Completas, 16ª conferência introdutória sobre Psicanálise, intitulada "Psicanálise e Psiquiatria". Estas conferências foram proferidas na Universidade de Viena, durante dois invernos entre 1915 e 1917. A conferência XVI é a primeira do bloco dedicado à teorização das neuroses, tema mais técnico do que os anteriores - sonhos e atos falhos; com estes últimos qualquer ser humano está familiarizado, os vivenciou em primeira mão, mas com os sintomas neuróticos, em especial os mais acentuados, não necessariamente.

Daí a frase: Freud acabara de avisar que sua exposição seria, dali pra frente, mais unilateral do que antes, mais informativa do que dialógica.

Os senhores não devem, porém, tomar esse advertência minha no sentido de que eu proponha dar-lhes conferências dogmáticas e insista em seu crédito irrestrito. Um equívoco desses far-me-ia grave injustiça. Não desejo suscitar convicção; desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos. Se, em decorrência da falta de conhecimento do material, os senhores não estão em condições de emitir um julgamento, não deveriam nem acreditar, nem rejeitar. Deveriam ouvir atentamente e permitir que atue nos senhores aquilo que lhes digo (Freud, 1916-17, ed. eletrônica).

Pra ter em mente:

  • Para suscitar convicção, nada como uma máxima ou aforismo. Não deixa de ser curioso que nesta frase, divulgada como aforismo, Freud esteja justamente questionando a validade das "convicções súbitas" e "conversões-relâmpago", análogos acadêmicos do "amor à primeira vista". A elas contrapõe o "benévolo ceticismo" e o amadurecimento tranquilo de pontos de vista ao longo de um trabalho de muitos anos...
  • O primeiro preconceito em questão é o organicista. Freud prossegue, nessa conferência, no sentido de derrubar o preconceito segundo o qual um sintoma é "absurdo, ininteligível" - frescura ou simulação, diriam alguns médicos - se não puder ser remetido a determinantes orgânicos, de preferência hereditários. O preconceito então, antes de tudo, é quanto à admissão do inconsciente: à ideia segundo a qual nosso sofrimento tem como importante determinante nosso desejo, fonte incansável de conflitos. Outro preconceito, portanto, corolário direto, é quanto à ineficácia de um cuidado baseado na palavra. Freud já o combatia no início do século passado, e eis que ele ainda transita pelos mais altos escalões profissionais, talvez até mais forte do que nunca; só mudou o vocabulário, de 'orgânico' e 'hereditário' para 'bioquímico' e 'genético'.

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