O que os jogos e as competições esportivas deixam entrever de forma notável é que o objeto de desejo facilmente se transfigura em objeto de disputa, no que não faz mais que revelar sua essencial arbitrariedade: são retrato do momento em que tal objeto se torna absolutamente abstrato, quando a rivalidade não tem outra meta que não a glória de triunfar sobre o rival, em igual medida um obstáculo... e um modelo.
“O objeto inteiramente criado pelo desejo mimético é um falso objeto. O prestígio e a honra são exemplos.” (Girard, 2000, p. 105). Esta é a essência do “objeto de disputa supremo e inexistente que os homens roubam sem cessar uns dos outros” (Girard, 1990 [1972], p. 192). No limite, o objeto é “o signo vazio de uma vitória temporária, de uma vantagem imediatamente colocada em questão” (Ibid., p. 193) tanto pelo vencedor – que, descobrindo-se ainda não pleno, logo colocará em ação a mimese novamente, procurando um novo rival sobre o qual triunfar na esperança de absorver a plenitude que a ele atribui imaginariamente – quanto pelo vencido – que, se ainda não o tiver feito, elegerá imediatamente o vencedor como modelo e obstáculo. De fato, as rivalidades duradouras tendem a se configurar como a eleição mútua de cada um dos adversários como modelo e obstáculo do outro: “assim, o imitador torna-se, ao mesmo tempo, modelo de seu modelo; imitador de seu imitador” (Girard, 2000, p. 87).
É bom lembrar, no entanto, que a arbitrariedade e o caráter vazio do objeto só se apresentam como tais de uma perspectiva externa. Para os envolvidos, o que se disputa é o próprio ser, “sua alma, seu sopro vital” (Girard, 1990 [1972], p. 194). Disto decorre a violência das conseqüências da mimese como estrutura do desejo, violência da qual as disputas esportivas, por exemplo, não passam de formas ritualizadas e mitigadas...
...na maioria das vezes. E, de qualquer forma, parabéns ao Corínthians.
...na maioria das vezes. E, de qualquer forma, parabéns ao Corínthians.
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